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A angustia da pressa


Atendo homens e mulheres que trazem seus filhos pequenos e adolescentes e eles próprios voltam para uma consulta na semana seguinte. As queixas são “cansaço”, “estresse ao extremo”, “fadiga”, “falta de vontade de fazer qualquer coisa”, “libido zero”, “insônia”... Revelam que levam uma rotina pesada, acordam cedo para levar os filhos ao colégio, as crianças dão muito trabalho, problemas com o chefe ou colegas, sem ânimo para a prática de exercícios físicos, sem estímulo para sair, o orçamento é apertado e vão a reboque das obrigações.

Muitos estão tomando algumas vezes uma “bandinha de lexotan” e ressalvam apressados: “mas não é todos os dias”. Observo um certo pudor de revelarem que precisam de algo para conciliar o sono e fazer a cabeça parar de pensar nas tarefas do dia seguinte quando se deitam.

Essas pessoas levam uma vida angustiada, uma pressa sem fim, mesmo aquelas mães que não trabalham fora e se dedicam ao cuidado das crianças e não têm o agravo desse estresse, reclamam inconformadas do tédio do trabalho doméstico.

São seres insatisfeitos, que não dispõem de tempo para si e se sentem tragados pelas exigências descomunais da vida diária. Quando lhes pergunto qual o sentido da vida, o que cada um deles está fazendo para si, além de trabalhar e prover as necessidades da família e cuidar dos filhos, a maioria cala pensativa e não encontra em si a resposta para o sentido da vida que estão levando.

Alguns entregam-se a uma prática religiosa, barulhenta, vertiginosa nos cânticos, nas palmas e rodopios, outros, comprometem a pequena quantia que lhes sobra do salário e até se endividam para cuidar de animais abandonados. Tudo muito válido, muito generoso, mas não tem tempo e disposição para entenderem suas próprias emoções, olhar para dentro de si e assimilarem o que se passa ao redor.

Ao longo da história da humanidade muitos foram os mestres que se dedicaram a ajudar o homem nesta sua luta. Hoje temos os psicólogos de todas as vertentes, (mas ir ao psicólogo ainda não é uma prática muito aceita) e pululam os “coachs” que expõem suas ideias de como venceram suas dificuldades e obtiveram sucesso em livros, seminários, outdoors e outros grandes eventos com a promessa de que vão “transformar sua vida neste final de semana”.

A percepção não é só minha diante dos meus pacientes, mas como os individualizo, fica bastante claro que cada vez mais as pessoas têm menos tempo para si, para se auscultarem, um tempo sem cobrança das cargas do passado e do assombro do futuro. E dessa forma vão se consumindo, deteriorando a juventude, a saúde na busca de algo que os complemente e ampare no grande vazio que os toma.

Um pouco de tempo de qualidade, um pouco de silêncio, livres de preocupações compulsivas podem ser a esperança de recuperar a possibilidade autêntica da vida e a essência da criatura humana.

DICA: Reserve cinco minutos diários, feche os olhos e acompanhe o ritmo da sua respiração. Essa prática vai fazer uma boa diferença na sua saúde e no seu estar no mundo.


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