O LIXO ALIMENTAR QUE AS NOSSAS CRIANÇAS ESTÃO COMENDO
A afirmação não é minha, mas assino embaixo. Trabalho há três décadas com famílias e vejo a deterioração alimentar se agravar mais e mais entre os pequenos com a aquiescência dos pais.
O jornal New York Times publicou uma pesquisa realizada no Brasil, em Fortaleza, capital do Ceará, e constatou obesidade e desnutrição em crianças das comunidades antes chamadas “favelas”.
O crime cometido pelas grandes indústrias de alimentos é a oferta em carrinhos de picolé de produtos vendidos a baixo preço com alto teor de açúcar, sódio e os aromatizantes e estabilizantes que não alimentam, mas viciam.
Diz a reportagem que o investimento nesta população tem como objetivo compensar a baixa venda desses produtos na Europa e nos Estados Unidos, aonde uma consciência por produtos orgânicos e uma alimentação saudável já toma corpo.
Posso falar de uma parcela da classe média, que conheço muito bem pelo trato em consultório, e fico angustiada de acompanhar a deterioração alimentar dos meus pequenos clientes.
As mães se sentem também angustiadas por estarem vencidas pela negativa constante de experimentar uma fruta e de firmar hábitos saudáveis que incluam frutas verduras e cereais.
Tem a “cantina” do colégio, onde o mais “saudável” é o suco de caixa e o pastel de forno. Tem o lanche levado de casa e a presença de xilitos nas lancheiras dos coleguinhas, solidariamente divididos. Os aniversários, que literalmente, entopem as crianças de massa e doces e lhes reservam uma porção para serem comidos em casa.
O espanto é ouvir crianças maiores falando que no colégio “hoje é o dia da fruta”! Que inversão absurda! Que preço a pagar com uma saúde precária na vida adulta. E parece não ter como reverter essa deterioração da comida de todo dia que é o elemento primordial da nossa saúde.
Pais, professores e responsáveis pela saúde das crianças e dos adolescentes precisam rever os hábitos alimentares do cotidiano, repensar as compras de determinados produtos, refletirem, tendo em vista todo o processo de adoecimento que temos na atualidade.
Apesar do avanço da medicina, das maravilhosas máquinas de diagnóstico, nossa saúde está muito precária e a indústria farmacêutica cresce a galope.
Mais cedo se tem diabetes, pressão alta, sobrepeso, obesidade, disbiose, taxas altas de colesterol e triglicerídeos, e outros males que só apareciam numa idade mais avançada.
Precisamos rever o que comemos. A expectativa de vida é maior na atualidade, mas só vale a pena se for com qualidade.
Dra. Erotilde Honório