Filhos que dormem na cama com os pais a perder de vista
Acho até que já abordei este assunto em outro artigo, mas, o fato é tão recorrente em consultório que me arrisco em repeti-lo.
Muitas vezes as mães trazem os filhos para a consulta com a queixa de agressividade por parte da criança, recusa em ir à escola, não atende a comandos, mau comportamento e a família começa a ficar incomodada porque o ambiente está sempre em crise.
Já foram ao neurologista para descartar TDHA (Síndrome do Déficit de Atenção com Hiperatividade), e foram recomendados pela coordenação da escola o acompanhamento psicológico. Procuram a homeopatia porque sabem da atuação do remédio homeopático no comportamental dos pacientes.
Mediante a anamnese que passa pela alimentação de forma minuciosa, a ingestão de água, o ambiente doméstico, as questões da escola, o tempo que passa com a avó ou a empregada doméstica ou a escola de tempo integral, chega-se ao sono. O horário e local de dormida.
De modo geral as crianças fazem os seus horários de dormir e não tem hora, pode ser às 21, 22 ou até meia noite. O céu é o limite. E essa criança precisa acordar bem cedo para chegar à escola. É conduzida a mil por hora no acordar, no café da manhã, porque os pais precisam bater o ponto no trabalho.
Esse é um horário de extremo estresse! E todos os dias, o dia começa mal, com choro, reprimendas e raiva.
No decorrer da consulta se especifica o local do sono. Na cama com os pais, ou o pai já saiu do quarto e o filho tomou o seu lugar, ou a mãe saiu do quarto e já se alojou no quarto do filho (a) adolescente.
Adeus privacidade para todo mundo.
Não tenho as razões científicas de porque a criança que dorme com os pais tem um comportamento alterado. No geral é agressiva, mandona, dispersa, chora com facilidade, é insegura, tímida quando solicitada no exame clínico, se emburra com facilidade e faz birra por tudo. Nunca está satisfeita.
Do meu ponto de vista essa proximidade compensatória que parte das mães, por sensação de culpa pela ausência nas horas de trabalho, passa para a criança como um sentimento de insegurança e perda, e quanto mais o tempo passa, esse sentimento se transforma em comportamento disfuncional e gradativamente a criança vai se emponderando negativamente e conduzindo os pais com os seus caprichos.
Até os dois anos, é confortável para a criança dormir no mesmo quarto com os pais, não na mesma cama, por inúmeras razões de segurança para a criança e para evitar desconforto para os adultos.
Varia de criança para criança a hora de estar preparada para ter o seu espaço, o seu quarto e naturalmente uma hora razoável de dormir. O sono traz benefícios especiais para a saúde das crianças em especial.
A criança sem uma rotina de sono e atingindo a pré-adolescência ainda dormindo com a mãe, muitas vezes está sendo usada de forma inconsciente como escudo numa relação desgastada do casal.
Esse hábito é prejudicial e vai se refletir na alimentação, na escola, na sociabilidade e em todo o desenvolvimento da criança, como um ser que precisa crescer em autonomia, segurança e independência para saber viver na coletividade.
Dra. Erotilde Honório